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por Paiva

Nov 16 • 3 min read

você desaprendeu a trabalhar "em equipe"


caos numa terça feira de feriado

Terça feira passada, eu saí do Nemesis com a cabeça zunindo. Aquela vibração fina que aparece quando o dia foi difícil demais para explicar em frases completas.

Era feriado aqui no Canadá. Remembrance Day
Fluxo absurdo.
Workflow novo.
Time jovem.
Gente técnica, rápida… mas com zero tato na convivência.

O tipo de ambiente que funciona, mas não respira.

Fiquei ali na rua, parado esperando o ônibus, sentindo o cheiro do café ainda preso na roupa.

Abri o Spotify e deixei ele decidir por mim.

E foi aí que aconteceu a parte estranha.

Uma música que eu nunca tinha ouvido entrou como se tivesse sido escrita para aquele minuto específico.

Depois outra. E outra.

Nenhuma perfeita, pra falar a verdade. Nenhuma inesquecível.

Mas todas… certas.

Elas não me conheciam. Mas sabiam exatamente o que eu precisava ouvir.

e isso me irritou


Não o turno. Não o caos. Não a responsabilidade de aprender tudo com velocidade, com gente que prefere refazer o trabalho de alguém a ensinar essa pessoa a fazer melhor.

O incômodo era outro:

Por que o algoritmo parece entender as minhas emoções melhor do que as pessoas ao meu redor?

O absurdo é que era só uma playlist aleatória.

Um cálculo frio, estatístico, mecânico.

Um conjunto de dados tentando prever meu humor com mais delicadeza do que um time inteiro treinado para lidar com gente de verdade.

A economia da atenção venceu porque encontrou um espaço.

E nesse espaço, a gente mesmo deixou um vazio e a tecnologia só preencheu.

Por isso que a gente fica preso.

Porque alguém (o algoritmo, no caso) finalmente percebeu a gente.

Nem sempre é saudável. Mas é preciso admitir: ele funciona.

Eu fiquei ouvindo aquelas músicas como quem morde uma verdade amarga: se um algoritmo consegue calibrar meu estado emocional depois de um turno caótico, o problema não é o algoritmo.

É o ambiente.
É a falta de humanidade onde ela deveria ser o básico.
É essa pressa meio cega que domina lugares que dependem de gente, mas que parecem rodar melhor quando ninguém repara em ninguém.

Tipo o Instagram sem a opção de editar a foto.

ninguém faz um bom serviço sozinho

Você pode tirar o melhor shot de espresso do mundo e mesmo assim deixar o time pior.

Você pode dominar a técnica e ainda assim perder o essencial: presença.

Talvez porque presença não dá orgulho no currículo.
Não aparece no relógio de ponto.
E não tem KPI.

Mas é ela que sustenta tudo.

A quarta música começou a tocar enquanto essa ideia ainda ecoava. E ela soava como alguém dizendo, baixinho:

“ok, você sobreviveu. agora respira.”


Eu respirei.

E percebi que eu não estava ali para absorver o jeito torto de ninguém.

Eu estava ali para aprender. Para ganhar casca. Para desenvolver precisão, calma, consistência, aquele tipo de coisa que só nasce do caos.

Encostado no ponto de ônibus, veio aquela lembrança simples que o café ensina na primeira vaporada na cara: ninguém faz um bom serviço sozinho.

E esse pensamento ficou ali, pairando, meio cru, enquanto a playlist continuava rodando.

Não como revelação, não como metáfora, só como um pano de fundo que, por algum motivo, fez tudo encaixar um pouco melhor depois do caos.

Nada épico. Nada profundo. Só… sincronizado o bastante para eu respirar direito.

e foi aí que caiu a ficha de verdade


Eu não precisava que alguém me explicasse nada naquele momento.

O barulho do turno já tinha explicado. A música só organizou o que estava espalhado.

Era isso.
Simples.
Quase banal.

Às vezes, o que nos acompanha não precisa decifrar a gente, só devolver um mínimo de eixo.

A tecnologia pode até sequestrar a nossa atenção. Mas, de vez em quando, sem querer, ela devolve um pedaço dela.

Às vezes, quando você menos espera. E assim, subi no ônibus conforme o cansaço mudava de textura.

Era menos um peso. Mais um lembrete.

De que, por mais barulhento que seja o turno, sempre existe um alguma coisa que rearruma tudo por dentro (ou quase tudo).

Mesmo que venha de um algoritmo.

E você, o que é que te puxa de volta pro eixo quando ninguém está olhando?

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